segunda-feira, 18 de abril de 2011

QUANTO CUSTA PARA UM BLOCO SAIR NA RUA?


Contando apenas com o empenho da diretoria, de sócios e simpatizantes, os chamados blocos oficiais trabalham praticamente o ano todo para apresentar na semana do carnaval um desfile à altura das espectativas. Poucos sabem os pulos que os carnavalescos tem que dar para mostrar seu trabalho dignamente.

Por M. Lino

Um percurso entre a magia do carnaval e as reais dificuldades dos blocos

(A Magia)

Nas primeiras horas da madrugada do dia 05/02/11 os trovões anunciaram que era dia do Águia Negra desfilar pelas ruas da cidade. Tal como na canção, a realidade se concretizou. A chuva que teimava em permanecer desde a madrugada apenas preparou o clima para o que viria acontecer. Os fogos, pela manhã, anunciavam a expectativa de todos os foliões. Logo a “Chama de Alegria” transformou o amanhecer chuvoso em mais um alegre sábado de carnaval pronto a testemunhar o grandioso desfile do bloco mais querido do Carnapauxis. O sol esteve bastante firme durante a tarde, o primeiro bloco à chegar na concentração, o Folia à Vista veio acompanhado pela irreverência do “Pai da Pinga” que conduziu até a concentração do Águia Negra novos personagens e belas fantasias, o Vai ou Racha não deixou por menos e chegou acompanhado pelo trio Miguel Venâncio da Liga Mário Prata, trazendo muita organização e lindas destaques do bairro São Francisco.
O encontro dos diversos blocos aqueceu os brincantes e a folia pegou fogo. A travessa Lauro Sodré recebeu o “Bloco do Povão” que representa a maior área da cidade, e acolhe blocos alternativos, juntos compuseram o maior cordão de foliões que já se viu.
O presidente do bloco Águia Negra, Márcio Gomes, não mediu esforços no sentido de unir os blocos alternativos dos bairros: Cidade Nova, Bela Vista e São Francisco para que juntos formassem o maior arrastão do Carnapauxis. Pelo que vimos no sábado, os esforços deram frutos e a participação maciça do povo mostrou-se inquestionável.
A chuva esteve presente no percurso do bloco, os trovões anunciaram a chegada do Águia Negra na Praça da Cultura. Mesmo com a forte chuva que caiu repentinamente, os foliões não se intimidaram e lotaram a arena do carnaval.

Perfeito encanto

A música “Chama de alegria” de autoria de Tony Amaral, personificou o desfile do bloco, encantou inúmeros brincantes que esbanjaram alegria e satisfação. Mais uma vez, o compositor Tony Amaral mostrou competência ao homenagear figuras consagradas do nosso carnaval. Indiscutivelmente, a menção aos bailes carnavalescos do Copacabana, constituiu o trecho mais singular da composição.
Há um interessante registro no livro Inventário Cultural e Turístico do Médio Amazonas Paraense, cuja primeira edição saiu em 1982, e diz "No carnaval de rua podemos destacar alguns blocos como: (...) Bloco Copacabana, com 100 participantes, aproximadamente (...)" (LOUREIRO, 1987, p.49), portanto, destaca-se como um dos maiores blocos de rua da cidade. Um antecessor à altura do bloco Águia Negra, encontrando como rival em número de brincantes apenas o Bloco do Recanto Tropical, de dona Mundaíta.
Todo esforço em resgatar a cultura obidense merece registro, e a categoria com que o bloco Águia Negra tem proposto as letras de suas músicas, com critério e ponderação, é um exemplo que deve ser seguido.

(A Realidade)

Qual o custo dessa brincadeira?

A realidade dos blocos é bem mais difícil do que se imagina. Sem o devido apoio, eles se viram como podem.

Quando apreciamos uma fantasia de destaque, em um bloco, não calculamos qual valor está investido em plumas e demais adereços. Uma indumentária de Mascarado Fobó então nem se fala. Tudo é comprado pela hora da morte, na época do carnaval os produtos encarecem ainda mais.
Para se manterem financeiramente, os blocos contam com a arrecadação de mensalidades dos sócios, do saldo positivo das barracas no pré-carnaval e dias oficiais; promoções durante o ano: tais como seresta, rifa, feijoada, torneio, bingo, etc.
Os recursos captados durante o ano são investidos primeiramente na confecção dos abadás, os quais são comercializados a partir de dezembro até a semana do carnaval. A maioria dos blocos mandou confeccionar seus abadás em Manaus, sendo que 1.000 unidades sai pelo módico preço de R$ 8.000,00. A partir de 3.500 unidades, o valor diminui para R$ 6,00 a unidade. Desse arrojado investimento é que advém o maior recurso para colocar os blocos na rua.
Estatisticamente, os dias de maior volume de vendas no pré-carnaval e dias oficiais é o sábado gordo de carnaval, dia do bloco Águia Negra (em que é tradição secar todas as barracas antes do encerramento do evento) e na terça-feira de carnaval dia do bloco das Virgens, fechamento das apresentações dos blocos oficiais.
A SECTUMA (Secretaria de Cultura Turismo e Meio Ambiente) repassou para os blocos o recurso oriundo do aluguel dos camarotes e espaço das barracas de alimentação. Cada box de churrasquinho foi vendido a preço razoável.  Dividido o montante da arrecadação, coube a cada bloco R$ 2.000,00 repassado em cheque, e entregue a partir de quinta-feira, para uns (dia do início do Carnapauxis) para outros na sexta-feira à tarde após o encerramento do expediente bancário. Nesse caso, o cheque só poderia ser descontado apenas na quarta-feira de cinzas, com exigência de Estatuto do Bloco, CNPJ, Ata de Eleição da Diretoria, documentos do responsável, etc.
Uma das sugestões do poder público era a de que os blocos apresentassem bastante Mascarados Fobós, em contrapartida ao repasse.
Uma indumentária completa do Mascarado Fobó custa: R$ 80,00; R$ 60,00 apenas o dominó simples. Um capacete custa R$ 6,00, máscara a partir de R$ 3,00, avulsa. Uma diária para confeccionar os capacetes R$ 30,00.
Para se ter uma idéia, o repasse daria para confeccionar cerca de 30 dominós simples ou 250 abadás, ou ainda meia fantasia de uma porta-estandarte. E convenhamos dizer, uma porta-estandarte usa pouca vestimenta. Para confeccionar a fantasia de uma porta-estandarte o artesão cobra de R$ 400,00 a R$ 600,00. O custo do material varia de R$ 3.000,00 a R$ 3.500,00. Por exemplo, uma pluma custa R$ 5,00, uma pena de faisão, dependendo do tamanho, R$ 20,00 a R$ 35,00, e por aí vai.
O Bloco Unidos do Morro, por exemplo, apresenta uma ala com mais de 100 Mascarados Fobós, cacule que o investimento (somente nessa ala) é três vezes maior que o repasse da SECTUMA.
Uma das reclamações dos Blocos, a respeito do repasse da SECTUMA é a seguinte: Quando é feito (isso quando ocorre) já não há mais tempo hábil para se investir em indumentárias para os blocos. Desta forma, é utilizado apenas para pagar parte das dívidas dos blocos que são contraídas junto aos fornecedores de adereços carnavalescos. Será que a Liga Mário Prata já solicitou a prestação de contas para verificar se os valores repassados correspondem ao montante arrecadado, e se a divisão é feita de forma igualitária?
Para se ter uma idéia, em 2010 o gasto para colocar o bloco Águia Negra na rua foi superior a R$ 26.000,00. Cifra inferior a que o bloco Xupa-Osso gastou para se apresentar no Carnapauxis.
Se os blocos pagassem as despesas do pré-carnaval como era projeto do ex-secretário de cultura, a cifra daria para pagar apenas parte dessa despesa e não sobraria nada para se investir nos dias oficiais.
Blocos com maior estrutura já sentem dificuldades para mostrarem um desfile com melhor qualidade nos dias oficiais, imaginem os blocos com menor estrutura, como é o caso dos blocos: Mirim e Serra da Escama, que são os primeiros a se apresentarem.
Só resta aos blocos oficiais unirem esforços para manterem essa tradição que é o Carnapauxis.

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