quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Onde estão nossos clássicos: Inglês de Sousa e José Veríssimo?

Por M. Lino

 Uma reportagem vinculada na revista Isto é 24 /01/2011, sobre a falta de estrutura física das recém fundadas universidades federais, entre elas a UFOPA  (Universidade Federal do Oeste do Pará) causou o maior rebuliço nos meios acadêmicos e mobilizou a opinião pública. Com relação à UFOPA, a reportagem abordava a criação de licenciaturas integrados para professores que não possuem nível superior, sendo Português-Espanhol, Matemática-Física, Geografia-História. A revista, de ampla circulação nacional, não poupou críticas à instituição. À algumas semanas  a repercussão da notícia motivou um debate na rádio Tapájos FM 94 de Santarém, no programa Mesa Redonda. O doutor em sociologia e professor da UFOPA Gilson Costa, se posicionou contrário às licenciaturas integradas, as quais chamou de “Matafísica”, “Portunhol”, “Geohistória”, questionava nesse momento a formação dos professores, ressaltando que a falta de material de consulta, livros sobre as diferentes áreas do conhecimento, além do condensamento de matérias, prejudicava a formação do universitário, e indagava: “Onde estão os clássicos?” E logo citou meia dúzia de autores consagrados, cujas obras a biblioteca da UFOPA (Santarém) não dispõe, e que são essenciais para promover uma base sólida à formação do acadêmico. Quando o prof. Gilson Costa lamenta a falta de obras de referência ou de uma biblioteca básica, por exemplo na área de sociologia, mostra a relevância de leituras essenciais para a construção de uma visão mais ampla de mundo. Isto a boa leitura é quem proporciona, ou seja, a leitura dos clássicos.


Enquanto isso... na Casa de Cultura...

Em uma breve visita à Biblioteca Pública Municipal de Óbidos (instalada na Casa de Cultura), constatamos que não existe nenhum livro do obidense e citadíssimo crítico literário José Veríssimo, quanto ao iniciador do Naturalismo no Brasil e conterrâneo do primeiro, Inglês de Sousa, encontramos três únicos exemplares de uma obra literária de cinco romances e dois livros jurídicos. Obra de destaque na literatura brasileira. Em decorrência de um acervo reduzido, ficamos impossibilitados de fazer empréstimos, levar para casa os livros, ou seja, desfrutar de uma leitura prazerosa e indispensável. Fazemos côro à indagação do competente professor da UFOPA Gilson Costa: Onde estão nossos clássicos? Onde estão as obras de José Veríssimo? Onde estão as obras de Inglês de Sousa? Onde está o “Cacaulista”? Onde está “História de um pescador”? Onde está “O Missionário”? Onde está “O Coronel Sangrado”? Onde está “Contos amazônicos”? Isso para mencionar apenas os ilustres obidenses imortais da Academia Brasileira de Letras. Esses livros deveriam estar à disposição de estudantes, professores, etc., para empréstimo, leitura e pesquisa. Poderíamos erradamente, supor que não há leitores em Óbidos. Ora, há e muitos, porém, os livros são escassos mesmo para consulta quanto mais para empréstimo.
O acervo também conta com poucos livros de autores como Francisco Manuel Brandão, Idelfonso Guimarães, Ademar Aires do Amaral, a bibliografia desses autores não está completa, o que é uma pena, geralmente apenas um único exemplar de cada obra não deixa que a decepção seja completa. Há outros romances indispensáveis para a compreensão da realidade amazônica como os de Benedito Monteiro, cuja obra completa  não consta nas prateleiras da biblioteca, sem falar de Dalcídio Jurandir e Bruno de Menezes, entre outros literatos nortistas.
E custa tão pouco montar uma biblioteca básica desses autores. Será que os nossos legisladores ainda não atentaram para a importância e a necessidade de uma biblioteca revitalizada, peça chave para o cultivo de um hábito tão importante como a boa leitura? Percebe-se a falta de emendas na lei orçamentária municipal referente à aquisição de livros de autores obidenses, é o mínimo que se pode esperar do poder público de uma cidade tão generosa, berço de grandes escritores.
Onde estão nossos clássicos? Repito a indagação. Atualmente, o único acréscimo ao acervo da biblioteca consiste em doações de particulares. Esse tipo de doação revela o gosto pessoal do ofertante e nem sempre acrescentam obras relevantes para a formação de uma boa leitura.
Um exemplo: a biblioteca recebeu a doação de alguns livros de Paulo Coelho, nada contra Paulo Coelho, um autor que fez primeiro sucesso na França para depois ser reconhecido no Brasil, mas o quê a leitura dessas obras irá acrescentar de importante para a construção de uma percepção crítica no leitor? A formação de um bom leitor passa pela leitura dos clássicos. Repito a indagação: Onde estão nossos clássicos?

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