quarta-feira, 17 de agosto de 2011

No dia do Patrimônio Histórico Lembremos do Projeto:

JORNADAS PARAENSES
Por: Márcio Rubens
 Capela do Desagravo (Capela do Bom Jesus) Autor desconhecido

O Museu de Rua não foi um projeto que esteve direcionado apenas para a identificação e/ou levantamento e contextualização do Patrimônio Histórico do município, mas esteve diretamente veiculado ao cotidiano do povo obidense, já que juntamente com as Placas houve outros projetos que estavam na pauta das discussões e atividades que mantinham íntima relação entre si, dentre os outros estavam o Projeto Jornadas Paraenses
, que diz respeito a vários temas que foram propostos pelos pesquisadores aos professores e diretores de escolas de 1° e 2° graus para serem direcionadas aos alunos com o objetivo inicial de fazê-los perceber a importância e também a proximidade das informações contidas em cada uma das placas com a sua realidade, ou melhor, a criação de uma memória coletiva sobre a sua História e a do município já que ambos estão intimamente relacionados e que de acordo com as idéias de Maria de Lourdes Horta “atrás de cada artefato há uma ou muitas pessoas, descobrir quem eram e como viviam é um fator fundamental para a experiência humanizante que nos é proporcionada pelos objetos do Patrimônio Cultural[1] como se o processo cultural fosse uma metamorfose em que a herança de conhecimentos que recebemos de nossos antepassados possui caráter determinante para a construção de nosso presente e futuro, e representaria o pano de fundo de nossa identidade individual e coletiva.
Nesta perspectiva, o Jornadas Paraenses enquadra-se no contexto de amplo desenvolvimento de idéias e atividades acerca do Patrimônio Histórico daquela cidade e que tiveram evidência entre os diversos segmentos da sociedade através de reuniões, debates, trabalhos escolares que envolveram professores, diretores de escolas, poetas, músicos, prefeito, vereadores, secretários, estudantes, leigos, etc. Sendo, inclusive, criadas duas revistas informativas sobre o assunto em discussão, mas apenas a de número um foi publicada. Já a segunda que ficou apenas em esboço não pôde ser encontrada, provavelmente perdeu-se como muita documentação referente ao projeto.
Estas revistas que durante o processo de construção contaram com a participação de diversas pessoas, todas naturais de Óbidos e por este motivo presume-se que mantinham contato direto com seu acervo patrimonial, o que favoreceu a identificação de dificuldades do povo sobre as temáticas até o momento pouco discutidas como Patrimônio Histórico que ali foi definido como “tudo aquilo que nossos antepassados deixaram para nós, assim como seus antepassados haviam deixado, o Forte, o Quartel, a Matriz, a Sede da Prelazia, os Rios, a Serra da Escama com seus canhões, e todos os elementos que pertencem à natureza, que chamamos de Patrimônio Ambiental ou Natural”,[2] a memória, que seriam as informações que se acumulam sobre momentos anteriormente vividos pelo povo integrante de determinado local.
A revista apresentou também desenhos de diversos prédios em preto e branco o que permitiria aos indivíduos que a manipulasse pintá-la de acordo com seu gosto ou reproduzindo sua cor original; aspectos do folclore e cultura local, também observáveis no texto e na linguagem empregada.
“(...), e num só prédio, como também móveis antigos como os do velho fogueteiro, lendas, contos. A senhora precisa ver o círio que é no segundo domingo de julho e o dia da festa que acontece no dia vinte e seis de julho, em homenagem a Nossa Senhora Sant’ Ana, (...) nossas quadrilhas, marambiré, pássaro, o boi-bumbá e o festival de música popular obidense que já gravou até disco, enfim, uma riqueza”.[3]
Não quero dizer que todo este material está totalmente de acordo com os aspectos da vida cotidiana de algumas pessoas da cidade, afinal, - vale lembrar que o sentido foi tentar manter uma aproximação da linguagem empregada pelo caboclo local, e não da sociedade de maneira geral – o emprego de certas expressões não estão em total harmonia com as usuais do caboclo, como na frase “ele mora na casa mais idosa daquela rua.” Este indivíduo falaria, “ele mora na casa mais velha daquela rua”, devido ao uso mais constante deste vocábulo no discurso deste indivíduo.
Além do mais o carimbó, não está diretamente vinculado às tradições que de longa data permeiam a cultura local. Esta dança só foi introduzida recentemente em Óbidos, a pouco mais de dez anos. E também como na própria revista consta, a pessoa responsável pela ilustração da mesma não era do município, pois lá “não havia” nenhum na época, caracterizando o não envolvimento, em longo período de vivência, deste sujeito com os detalhes do cotidiano local por isso permite a falta de harmonia de vários espaços representados com a realidade, mas o que vale é a intenção. O trabalho não deve ser, de maneira nenhuma, condenado por alguma dessas situações, apenas penso que mais trabalhos desenvolvidos nesse sentido suprimiriam as eventuais falhas.
De acordo com os relatórios de viagem dos pesquisadores pude manipular um que faz referência a algumas temáticas propostas pelo Jornadas  Paraenses, onde constam:
De 5ª à 8ª série:
“Pesquisar o porquê da Companhia Paulista de Aniagem exportar produtos para São Paulo e o Sudeste, máquinas para a região amazônica”;
“Faça uma redação tendo como tema a cultura negra levando em consideração o sincretismo religioso baseado no painel A Igreja dos Pretos ou de São Benedito”.
De 2º grau:
“Baseado nos painéis Igreja de Sant’Ana, Forte Pauxis e Seminário São Luiz Gonzaga, identifique qual a ordem religiosa que atuou e atua em Óbidos e faça um estudo comparativo entre o trabalho missionário realizado no período colonial com o atual, tendo como base os índios Tyriós”;
“Baseado nos painéis Sede da Companhia de Comércio do Baixo Amazonas e Antiga Casa de José Florenzano, descreva a interferência do capital estrangeiro na região, que criou estruturas para a exploração de seus produtos e diga quais os meios de transporte nela utilizados”;
E ainda:
“Faça uma descrição retratando a Arquitetura do período colonial no seu município, baseado nos painéis Residência do Senhor Leonardo, Casas da Rua Marcos Rodrigues, Casa do Baloeiro Chico Santos e Posto Médico Cabano”.[4]
Os relatórios de viagem dos pesquisadores enfocam bem as questões levantadas por este viés do projeto, já que assim os estudantes e pesquisadores em geral poderiam obter informações sobre o cotidiano e vivências da sociedade obidense e ainda assim fazer um paralelo com as de outras sociedades paraenses e brasileira, considerando os diferentes momentos de suas histórias. Neste sentido poder-se-ia visualizar uma espécie de imbricação do indivíduo com a memória histórica a nível local, regional e nacional o que de certa maneira poderia levá-los a uma maior identificação com os valores de sua cultura como um todo.
A História “na verdade e na sua abordagem contemporânea, nos fala em perspectivas, manifestações de múltiplos eventos, simultâneos e sucessivos, que organizam em diferentes planos e que podem ser vistos em diferentes ângulos, contra o horizonte do passado. A História fala de processos e de transformações, de luzes e sombras sempre em movimento, de estruturas e de conjunturas, de contrastes e de semelhanças, num panorama complexo em que nos situamos como atores ativos ou passivos”[5].


[1] HORTA, Maria de Lourdes. “Educação Patrimonial”. Anais do 1º Congresso Latino Americano Sobre a Cultura Arquitetônica e Urbanística. DPH/SMC. São Paulo, 1992. Pp. 70.

[2]Revista Informativa. Patrimônio Cultural de Óbidos. SECULT – N° 01/1990.
[3]IDEM.

[4] Relatórios de Viagem. Museu Contextualizado. Óbidos.
[5] HORTA, Maria de Lourdes. “Educação Patrimonial”. Anais do 1º Congresso Latino Americano Sobre a Cultura Arquitetônica e Urbanística. DPH/SMC. São Paulo, 1992. Pp. 65.

2 comentários:

  1. Há um equívoco, a capela do Bom Jesus é essa da foto....a do Desagravo foi inaugurada em 1800 e já caiu no barranco, ficava por traz onde é hoje o cliper de santana, ao lado do antigo cemitério, que muita gente confunde ter existido onde é hoje a praça de santana.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não há nenhum equívoco não, a primeira capela do desagravo existia de fato atrás do Clíper de Sant'Ana, mas como forma de o Povo se ver livre dos Cabanos, fizeram a promessa de que iriam reconstruir a Capelinha em local distante do barranco para que não caísse novamente. Portanto, a Capela do Bom Jesus é a efetivação da promessa com a reconstrução da antiga Capela do Desagravo, claro que sob novos aspectos e não mais correlata ao mesmo padra da primeira...

      Excluir

Leia as regras:
Todos os comentários são lidos e moderados previamente.
São publicados aqueles que respeitam as regras abaixo.

- Seu comentário precisa ter relação com o assunto do post;
- Em hipótese alguma faça propaganda de outros blogs ou sites;
- Não inclua links desnecessários no conteúdo do seu comentário;
- Se quiser deixar sua URL, comente usando a opção Open ID;

OBS: comentários dos leitores não refletem as opiniões do blog.