sábado, 24 de dezembro de 2011

O Porto de Óbidos, Cidade Economicamente Viável


Em comemoração às 10.000 visitas a este Blog, estaremos fazendo análises sobre o município de Óbidos, como forma de obtermos maiores informações acerca de nossa memória e História, afinal, não existe povo sem História.
Em outro momento, colocamos o Link para o texto Museu Contextual ou Museu de Rua, que é uma enorme referência para nós, e que representa um diferencial enorme para o Formato dos Museus, uma vez que essa experiência somente se seu no Estado do Pará em três municípios: Cametá, Vigia e Óbidos, justamente por sua grande relevância no quesito Patrimônio Histórico. 
Os Textos aqui mostrados compõem acervo do Professor Márcio Rubens e fazem referência às pesquisas sobre seu TCC,  " MUSEU DE RUA & PATRIMÔNIO HISTÓRICO: POLÍTICAS CULTURAIS E MEMÓRIA SOCIAL EM ÓBIDOS, 1989 - 2002".
Já sabemos o que é o Museu de Rua, vamos conhecer o Porto de Óbidos, de outros tempos e talvez possamos compreender um pouco mais sobre nossa situação econômica atual.
O PORTO DE ÓBIDOS
A existência do porto de Óbidos foi fato preponderante para o desenvolvimento econômico, social e urbano da cidade, devido ao seu grande fluxo de pequenas e grandes embarcações, funcionando como entreposto comercial de importação e exportação, onde toda a população ribeirinha do médio amazonas recorria à cidade para trocar - em vias de escambo - produtos como cacau, castanha-do-pará, cumaru, etc, por toda sorte de mercadorias. Nesse período que Óbidos conheceu o maior desenvolvimento urbano, principalmente com a chegada de grande contingente de imigrantes italianos - principalmente - judeus e portugueses.1
Dentro de um contexto regional de grande densidade hidrográfica como é o caso da Amazônia em que as distâncias de um local a outro são percorridas por embarcações devido à falta de outros instrumentos como os que temos hojerefiro-me aos aviões ou transportes rodoviáriosfez-se necessário à instalação de portos no século XIX que pudessem favorecer a estes eventuais contatos de viajantes com o ambiente local.
Considerando esta idéia, vários foram os sentidos da existência do porto de Óbidos que a partir de 1850 com a introdução da navegação a vapor, através da Companhia de Navegação e Comércio da Amazônia, cujo proprietário foi o Barão de Mauá, a região incorporou um elo de ligação mais imediatose comparado às embarcações que se utilizavam de velas e/ou remos em períodos anterioresentre as cidades de Belém e Manaus e aquelas que se desenvolveram entre estes dois pólos urbanos.
Foi um grande melhoramento para os habitantes da região o estabelecimento de uma linha de vapores em 1853, permitindo fazer essa viagem, Belém/ Óbidos, em 8 dias com tranqüilidade e conforto e em qualquer época do ano.2
Óbidos que desde o período colonial possuía direcionamento no sentido de entreposto militar,3 passou a servir como entreposto comercial de importação e exportação de produtos necessários ao desenvolvimento das indústrias que se utilizavam de matéria-prima ali encontrada como o cacau, castanha-do-Brasil, cumaru, borracha. Mas também como centro receptivo de importados nacionais e estrangeiros que contribuíam para seu próprio desenvolvimento econômico.
Além do mais, a prática das atividades relacionadas aos meios de transporte atuaram no incremento populacional da região, que se fez devido à chegada de um vasto contingente de imigrantes que durante o século XIX vieram com o intuito de se instalar na Amazônia como forma de ser atuante nas mais variadas atividades econômicas que se fizeram em bastante evidência naquele período.
Se a borracha contribuiu significativamente, para a modificação das estruturas sociais, políticas e econômicas de muitas cidades do norte do país, como é o caso de Belém4, em que o assunto é analisado por Maria de Nazaré Sarges que nos mostra o quanto a Capital do Estado evoluiu quanto a organização física, política e sócio-cultural em meio às influências do grande capital acumulado pelos senhores da borracha no final do século XIX e início do XX, mas é certo também dizer que nem deste produto vivia o homem amazônida. Esta região desde o período colonial se destacava com a grande diversidade de produtos do extrativismo que contribuíram para o elevado acúmulo de recursos por parte dos padres jesuítas que aqui se instalaram e exploravam os recursos naturais, o que se percebe ainda com esta colocação do Sr. Valentim Carvalho, comerciante e fazendeiro local, que nos faz o relato de uma época de um bom aproveitamento da produção de cacau na região, em que diversas partes da várzea os produtores aproveitavam a fertilidade do solo para cultivar esse produto que além de estimular as vendas da semente para a produção do chocolate, era comum a utilização do suco ou a polpa do cacau para a confecção de geléias em processo artesanal que estimulam as vendas desse segmento ainda nos dias atuais, por apresentar duas características singulares e de muita importância, a produção é de base artesanal e com matéria prima de ótima qualidade e por outro lado apresenta o contraste na cor em que à parte de cima ou cobertura é normalmente esbranquiçada mas com motivos inspirados no meio ambiente próximo ao produtor, ou seja, é comum este produto apresentar figuras de animais, em que se destacam espécies de peixes e aves comuns no cotidiano dos produtores de cacau.
Quando garoto, conversava com meu pai e outras pessoas mais idosas que diziam que na década de 1840, a colheita de cacau era grandiosa, pois a produção era de 500 toneladas. na comunidade Imperial5Costa de Baixocontava com uma produção de 100 toneladas.
A produção durou 115 anos. Alcançou até 1986, com safra minguada que era exportada para Belém e São Paulo. (...) não houve incentivo por parte dos governantes.”
Vale ressaltar que no ano de 1849 quando Bates por esteve relatou que a cidade tem aproximadamente 1200 habitantes e que devido ao forte desempenho das atividades econômicas local, no século XIX o município passou por um grande desenvolvimento urbanístico onde os prédios passaram a ser remodelados mediante aspectos do estilo eclético e que serviram de ambiente propício, em muitos casos, a moradia na parte superior ou comércio na parte inferior, da elite, que eram identificados como grandes proprietários rurais e comerciantes.
(...) Voltei a passar três semanas ali em 1859, quando o lugar estava muito modificado devido ao fluxo de imigrantes (...).6
Estes proprietários de imóveis no centro da cidade apresentam característica singular. Das 51 placas determinadas no relatório do Dphac, somente 47 foram encontradas e 13 destas referem-se a proprietários imigrantes, divididos entre italianos, franceses, portugueses, judeus e egípcios, o que eqüivale a quase 30% do total. Mas, considerem que 10 são prédios públicos divididos entre prefeitura, biblioteca, quartel, forte, correio etc. E ainda 04 possuem caráter eminentemente religioso como a Matriz de Santana, Igreja dos Pretos ou de São Benedito, Capela do Desagravo e Capela do Bom Jesus, perfazendo com isso um total de 57% dos prédios catalogados. E se forem comparados diretamente os 30% relativos ao número de proprietários imigrantes com os 43% restantes que caracterizam especificamente os proprietários nacionais, observa-se que o volume de estrangeiros enriquecidos que residiam em Óbidos durante os séculos XIX e início do XX não era tão desproporcional ao volume de brasileiros ricos ali instalados, a diferença em favor dos nacionais é de apenas 13%.
Como podemos perceber estes imigrantes tiveram papel significativo na formação da mentalidade sociocultural dos obidenses naquele século que através da introdução do estilo eclético na arquitetura local, tem-se a busca da reprodução de modelos arquitetônicos da Europa e que refletem uma revolução no modo tradicional de construir e habitar, primando pelo luxo e conforto,7 características muito significativas dos estilos inglês e francês que se viu e ainda se na capital do Estado assim como pelas ruas desta cidade em seu acervo arquitetônico mas também podemos percebê-las através de vivências retratadas na vida cotidiana dos antigos moradores que se mostram presentes em relatos de tertúlias.8
1 PLACAS Nº 50. Síntese Histórica e Arquitetônica.
2 BATES, Henry Walter. “Um Naturalista no Rio Amazonas”. São Paulo: Edusp, 1979, pp. 92.
3 REIS, Arthur César Ferreira. “História de Óbidos”. INL: Belém. Pp. 18.
4 SARGES, Maria de Nazaré. Belém, “Riquezas Produzindo a Belle Époque (1870 – 1912)”. Belém: Paka-Tatu, 2000. Pp.53.
5 A comunidade pertenceu à família de D. Pedro I, por isso denominou-se Imperial. Entrevista com o Sr. Délio Marinho.
6 BATES, Henry Walter. Um Naturalista no Rio Amazonas. São Paulo: Edusp. 1979. Pp. 102.
7 PLACAS, Nº 49. Casa de Estilo Eclético.
8 Reuniões literárias ou Saraus.

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