Em comemoração às 10.000 visitas a este Blog, estaremos fazendo análises sobre o município de Óbidos, como forma de obtermos maiores informações acerca de nossa memória e História, afinal, não existe povo sem História.
Em outro momento, colocamos o Link para o texto Museu Contextual ou Museu de Rua, que é uma enorme referência para nós, e que representa um diferencial enorme para o Formato dos Museus, uma vez que essa experiência somente se seu no Estado do Pará em três municípios: Cametá, Vigia e Óbidos, justamente por sua grande relevância no quesito Patrimônio Histórico.
Os Textos aqui mostrados compõem acervo do Professor Márcio Rubens e fazem referência às pesquisas sobre seu TCC, " MUSEU
DE
RUA
&
PATRIMÔNIO HISTÓRICO: POLÍTICAS
CULTURAIS E MEMÓRIA SOCIAL EM ÓBIDOS, 1989
- 2002".
Já sabemos o que é o Museu de Rua, vamos conhecer o Porto de Óbidos, de outros tempos e talvez possamos compreender um pouco mais sobre nossa situação econômica atual.
O PORTO DE ÓBIDOS
“A
existência
do porto
de Óbidos
foi fato
preponderante
para o
desenvolvimento
econômico,
social e
urbano da
cidade,
devido ao
seu grande
fluxo de
pequenas e
grandes
embarcações,
funcionando
como
entreposto
comercial
de
importação
e
exportação,
onde toda
a população
ribeirinha
do médio
amazonas
recorria à
cidade para
trocar -
em vias
de escambo
- produtos
como cacau,
castanha-do-pará,
cumaru,
etc, por
toda sorte
de
mercadorias.
Nesse
período
que Óbidos
conheceu o
maior
desenvolvimento
urbano,
principalmente
com a
chegada de
grande
contingente
de
imigrantes
italianos -
principalmente
- judeus
e
portugueses”.1
Dentro
de
um
contexto
regional
de
grande
densidade
hidrográfica
como
é
o
caso
da
Amazônia
em
que
as
distâncias
de
um
local
a
outro
são
percorridas
por
embarcações
devido
à
falta
de
outros
instrumentos
como
os
que
temos
hoje
– refiro-me
aos
aviões
ou
transportes
rodoviários
– fez-se
necessário
à
instalação
de
portos
no
século
XIX
que
pudessem
favorecer
a
estes
eventuais
contatos
de
viajantes
com
o
ambiente
local.
Considerando
esta
idéia,
vários
foram
os
sentidos
da
existência
do
porto
de
Óbidos
que
a
partir
de
1850
com
a
introdução
da
navegação
a
vapor,
através
da
Companhia
de
Navegação
e
Comércio
da
Amazônia,
cujo
proprietário
foi
o
Barão
de
Mauá,
a
região
incorporou
um
elo
de
ligação
mais
imediato
– se
comparado
às
embarcações
que
se
utilizavam
de
velas
e/ou
remos
em
períodos
anteriores
– entre
as
cidades
de
Belém
e
Manaus
e
aquelas
que
se
desenvolveram
entre
estes
dois
pólos
urbanos.
“Foi
um grande
melhoramento
para os
habitantes
da região
o
estabelecimento
de uma
linha de
vapores em
1853,
permitindo
fazer essa
viagem,
Belém/
Óbidos, em
8 dias
com
tranqüilidade
e conforto
e em
qualquer
época do
ano”.2
Óbidos
que
desde
o
período
colonial
já
possuía
direcionamento
no
sentido
de
entreposto
militar,3
passou
a
servir
como
entreposto
comercial
de
importação
e
exportação
de
produtos
necessários
ao
desenvolvimento
das
indústrias
que
se
utilizavam
de
matéria-prima
ali
encontrada
como
o
cacau,
castanha-do-Brasil,
cumaru,
borracha.
Mas
também
como
centro
receptivo
de
importados
nacionais
e
estrangeiros
que
contribuíam
para
seu
próprio
desenvolvimento
econômico.
Além
do
mais,
a
prática
das
atividades
relacionadas
aos
meios
de
transporte
atuaram
no
incremento
populacional
da
região,
que
se
fez
devido
à
chegada
de
um
vasto
contingente
de
imigrantes
que
durante
o
século
XIX
vieram
com
o
intuito
de
se
instalar
na
Amazônia
como
forma
de
ser
atuante
nas
mais
variadas
atividades
econômicas
que
se
fizeram
em
bastante
evidência
naquele
período.
Se
a
borracha
contribuiu
significativamente,
para
a
modificação
das
estruturas
sociais,
políticas
e
econômicas
de
muitas
cidades
do
norte
do
país,
como
é
o
caso
de
Belém4,
em
que
o
assunto
é
analisado
por
Maria
de
Nazaré
Sarges
que
nos
mostra
o
quanto
a
Capital
do
Estado
evoluiu
quanto
a
organização
física,
política
e
sócio-cultural
em
meio
às
influências
do
grande
capital
acumulado
pelos
senhores
da
borracha
no
final
do
século
XIX
e
início
do
XX,
mas
é
certo
também
dizer
que
nem
só
deste
produto
vivia
o
homem
amazônida.
Esta
região
desde
o
período
colonial
já
se
destacava
com
a
grande
diversidade
de
produtos
do
extrativismo
que
contribuíram
para
o
elevado
acúmulo
de
recursos
por
parte
dos
padres
jesuítas
que
aqui
se
instalaram
e
exploravam
os
recursos
naturais,
o
que
se
percebe
ainda
com
esta
colocação
do
Sr.
Valentim
Carvalho,
comerciante
e
fazendeiro
local,
que
nos
faz
o
relato
de
uma
época
de
um
bom
aproveitamento
da
produção
de
cacau
na
região,
em
que
diversas
partes
da
várzea
os
produtores
aproveitavam
a
fertilidade
do
solo
para
cultivar
esse
produto
que
além
de
estimular
as
vendas
da
semente
para
a
produção
do
chocolate,
era
comum
a
utilização
do
suco
ou
a
polpa
do
cacau
para
a
confecção
de
geléias
em
processo
artesanal
que
estimulam
as
vendas
desse
segmento
ainda
nos
dias
atuais,
por
apresentar
duas
características
singulares
e
de
muita
importância,
a
produção
é
de
base
artesanal
e
com
matéria
prima
de
ótima
qualidade
e
por
outro
lado
apresenta
o
contraste
na
cor
em
que
à
parte
de
cima
ou
cobertura
é
normalmente
esbranquiçada
mas
com
motivos
inspirados
no
meio
ambiente
próximo
ao
produtor,
ou
seja,
é
comum
este
produto
apresentar
figuras
de
animais,
em
que
se
destacam
espécies
de
peixes
e
aves
comuns
no
cotidiano
dos
produtores
de
cacau.
“Quando
garoto,
conversava
com meu
pai e
outras
pessoas
mais idosas
que diziam
que na
década de
1840, a
colheita de
cacau era
grandiosa,
pois a
produção
era de
500
toneladas.
Só na
comunidade
Imperial5
– Costa
de Baixo
– contava
com uma
produção
de 100
toneladas.
A produção durou 115 anos.
Alcançou até 1986, com safra minguada que era exportada para Belém
e São Paulo. (...) não houve incentivo por parte dos governantes.”
Vale
ressaltar
que
no
ano
de
1849
quando
Bates
por
lá
esteve
relatou
que
“a
cidade tem
aproximadamente
1200
habitantes”
e
que
devido
ao
forte
desempenho
das
atividades
econômicas
local,
no
século
XIX
o
município
passou
por
um
grande
desenvolvimento
urbanístico
onde
os
prédios
passaram
a
ser
remodelados
mediante
aspectos
do
estilo
eclético
e
que
serviram
de
ambiente
propício,
em
muitos
casos,
a
moradia
na
parte
superior
ou
comércio
na
parte
inferior,
da
elite,
que
eram
identificados
como
grandes
proprietários
rurais
e
comerciantes.
“(...)
Voltei a
passar três
semanas ali
em 1859,
quando o
lugar já
estava
muito
modificado
devido ao
fluxo de
imigrantes
(...).”6
Estes
proprietários
de
imóveis
no
centro
da
cidade
apresentam
característica
singular.
Das
51
placas
determinadas
no
relatório
do
Dphac,
somente
47
foram
encontradas
e
13
destas
referem-se
a
proprietários
imigrantes,
divididos
entre
italianos,
franceses,
portugueses,
judeus
e
egípcios,
o
que
eqüivale
a
quase
30%
do
total.
Mas,
considerem
que
10
são
prédios
públicos
divididos
entre
prefeitura,
biblioteca,
quartel,
forte,
correio
etc.
E
ainda
04
possuem
caráter
eminentemente
religioso
como
a
Matriz
de
Santana,
Igreja
dos
Pretos
ou
de
São
Benedito,
Capela
do
Desagravo
e
Capela
do
Bom
Jesus,
perfazendo
com
isso
um
total
de
57%
dos
prédios
catalogados.
E
se
forem
comparados
diretamente
os
30%
relativos
ao
número
de
proprietários
imigrantes
com
os
43%
restantes
que
caracterizam
especificamente
os
proprietários
nacionais,
observa-se
que
o
volume
de
estrangeiros
enriquecidos
que
residiam
em
Óbidos
durante
os
séculos
XIX
e
início
do
XX
não
era
tão
desproporcional
ao
volume
de
brasileiros
ricos
ali
instalados,
a
diferença
em
favor
dos
nacionais
é
de
apenas
13%.
Como
podemos
perceber
estes
imigrantes
tiveram
papel
significativo
na
formação
da
mentalidade
sociocultural
dos
obidenses
naquele
século
já
que
através
da
introdução
do
estilo
eclético
na
arquitetura
local,
tem-se
a
busca
da
reprodução
de
modelos
arquitetônicos
da
Europa
e
que
refletem
“uma
revolução
no modo
tradicional
de
construir e
habitar,
primando
pelo luxo
e
conforto,”7
características
muito
significativas
dos
estilos
inglês
e
francês
que
se
viu
e
ainda
se
vê
na
capital
do
Estado
assim
como
pelas
ruas
desta
cidade
em
seu
acervo
arquitetônico
mas
também
podemos
percebê-las
através
de
vivências
retratadas
na
vida
cotidiana
dos
antigos
moradores
que
se
mostram
presentes
em
relatos
de
tertúlias.8
2
BATES, Henry Walter. “Um Naturalista no Rio Amazonas”. São
Paulo: Edusp, 1979, pp. 92.
3
REIS, Arthur César Ferreira. “História de Óbidos”. INL:
Belém. Pp. 18.
4
SARGES, Maria de Nazaré. Belém, “Riquezas Produzindo a Belle
Époque (1870 – 1912)”. Belém: Paka-Tatu, 2000. Pp.53.
5
A comunidade pertenceu à família de D. Pedro I, por isso
denominou-se Imperial. Entrevista com o Sr. Délio Marinho.
6
BATES, Henry Walter. Um Naturalista no Rio Amazonas. São Paulo:
Edusp. 1979. Pp. 102.
7
PLACAS, Nº 49. Casa de Estilo Eclético.
8
Reuniões literárias ou Saraus.
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