sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Como no tempo de Inglês de Sousa (século XIX)

A cabala (compra de votos) corre as ruas de Óbidos.
Por M. Lino
Há exatos dez meses para as eleições municipais em todo Brasil a Cabala anda solta em Óbidos, como no tempo de Inglês de Sousa, registrado nas páginas de “O Coronel Sangrado” (romance realista que retrata a vida política de uma cidade do interior da Amazônia no tempo do II Império) a representatividade política é adquirida com a força do dinheiro.
A Barganha por apoio político e compra de votos inaugurou-se antes mesmo de findar 2011: O bloco da troca de favores entre candidatos e cabos eleitorais para a conquista dos mais seguros currais eleitorais já caiu na gandaia.
http://danusioalmeida.blogspot.com
A despeito da legislação eleitoral que coíbe tais práticas, a festança corre solta por baixo dos panos do palco eleitoral obidense (já armado a muito tempo). Pretensos candidatos a prefeito e vereador (sempre mascarados é claro) lançam-se sem pejo na cruzada por uma vaga na Câmara municipal, quiçá a Prefeitura, ao que parece, os cofres de tais candidatos estão abarrotados de cobre.
Há pouco tempo um vereador pronunciou na Tribuna da Câmara Municipal que não temia a cobrança popular, pois se ali estava é porque “investiu na sua Campanha”. Isso justifica a sua falta de compromisso com a população que o elegeu. Detalhe – o excelentíssimo vereador é pré candidato à reeleição (novamente “investindo” pesado em sua campanha);
Após uma tribuna popular outro vereador, da atual legislatura, comentou, com um grupo de cidadãos que lotavam a galeria da Câmara, que não cobrava o cumprimento das leis pelo Prefeito porque Candidato sem dinheiro não ganha eleição(outro que provavelmente  pretende comprar voto no próximo pleito), certamente aprendeu a lição doutrinada pelo seu mestre, um velho cacique (raposa felpuda) cuja aula magna leciona: “ganhar eleição em Óbidos é muito fácil porque a população é igual a galinha é só botar milho (dinheiro) em uma cuia e sair na frente chamando que todos vão atrás”. E pontifica satisfeito: É por isso que me elegi tantas vezes.
 www.fierp.org.br
Ainda este mês, um pré candidato a PREFEITO fez uma “reunião” com um grupo de eleitores inclusive estudantes concluintes do ensino médio, asseverou que é a opção de RENOVAÇÃO na política obidense, mostrou-se desapontado com a atual administração municipal, disse ser emissário de uma “nova” forma de fazer política e governar. E para arrematar afirmou que estava disposto a “ajudar” no financiamento da festa de formatura dos estudantes – desde que é claro- estes os apoiassem nas próximas eleições.
Ora que “nova forma” de governar é essa???
No Século XIX, no tempo de Inglês de Sousa, a compra de voto era fato corriqueiro, quem não teve oportunidade de ler o romance “O Coronel Sangrado” precisa ler. Há um exemplar (um único) na Biblioteca Municipal, garanto que é excelente leitura, em determinado trecho da obra há um minucioso relato sobre a prática da compra de voto naquele Século:
“Alguns lojistas limitavam-se a fazer a exposição ante as vistas ávidas do tapuio, e tentá-lo, afim de que fosse pedir dinheiro aos patrões para comprar algumas daquelas raras e caras maravilhas outros, porém eram políticos, ou tinham instruções dos políticos para entregar gêneros ao tapuio até certa quantia, porque cada tapuio tinha o seu preço taxado, conforme a importância do voto. Alguns não obtinham mais que o “porre” e um par de sapatos ou uma ponta de faca; outros chegavam a levar sortimento superior à soma de duzentos reis. A cabala corria as ruas; os políticos disputavam os votantes com ardor até entre os do mesmo partido porque cada qual queria levar para a igreja o maior número.de votantes. Mercadejava-se o voto com descaro”. Sousa, Herculano Inglês de, O Coronel Sangrado Universidade Federal do Pará, 1968 pag. 134.
Noutra passagem a troca de favores é usada pelo protagonista como arma para se ganhar uma eleição;
ao capitão Matias acenava baixinho com o lugar de secretario da Câmara, que dava cem mil réis por mês; ao mestre-escola prometeu muitos discípulos e ajudá-lo a por um colégio, depois que se aposentasse; o coronel não se esqueceu de pessoa alguma; correu aos amigos e conhecidos” Idem, pag.84.
www.inconfidencial.com.br
A política em Óbidos carece tanto de renovação que o discurso do pré-candidato que se diz “a renovação” parece mais uma das muitas estratégias do Coronel Severino de Paiva, Personagem central de “O Coronel Sangrado” para ganhar votos no século dezenove.



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