domingo, 26 de fevereiro de 2012

Presença da mitologia grega no carnaval obidense

 Por M. Lino

Uma pequena aula de história: Os gregos criaram mitos para explicar os fenômenos naturais. Esses relatos repassados oralmente preservavam a memória e a riquíssima cultura desse povo. A civilização ocidental herdou grande influência da cultura grega, através dos romanos que conquistaram a Grécia militarmente, mas culturalmente absorveram o conhecimento dos gregos. A cultura grega tornou-se, então, base do pensamento ocidental, e assim a mitologia grega chegou até nós.
A cultura grega foi redescoberta na idade moderna européia com os movimentos chamados de Renascimento e o Classicismo.
Havia na mitologia grega o deus Fobos, filho de Ares (Marte), o deus da guerra, e Afrodite (Vênus), deusa da beleza e do amor, esta deusa amava a alegria e o glamour. Fobos simbolizava
o temor e acompanhava Ares nos campos de batalha, injetando nos corações dos inimigos o medo que os fazia fugir. Os soldados usavam a figura de Fobos nos escudos nos campos de batalha para assustar os inimigos.
Fobos ou Fobós? A mitologia explica

Sempre me perguntei: Qual o origem da expressão “Mascarado Fobó”? Achava esquisita, estranha a palavra Fobó, desconhecia a etimologia até que descobri o mito de Fobos (do grego Phobos = medo), e logo encontrei um texto bastante elucidativo sobre o carnaval de Óbidos no encarte do CD “Carnapauxis: a festa do Mascarado Fobó” (vol. 01. Óbidos: SECTUMA, 2003) que nos revela aspectos interessantes do Carnapauxis, e consiste num registro do conhecimento coletivo a respeito desse inusitado carnaval. Percebi que entre Fobos e Fobós havia uma relação além de etimológica também sociológica. Utilizei enxertos do referido material para lançar uma breve reflexão. Constatei que ainda é desconhecida a origem do “MASCARADO FOBÓ (bobo, palhaço, à toa, insinuador junto à mulher ou homem)”, nota-se claramente neste trecho o esforço em definir o termo “Fobó” atribuindo-lhe adjetivos que, a meu ver, desvirtuam suas originais características.
 Apesar de afirmar ser desconhecida a origem da expressão, o material do encarte sugere uma definição oposta ao que aponta a tradição. O mesmo texto descreve o Mascarado Fobó como aquele que provoca sustos seja por sua fisionomia ou por sua atitude em quebrar as regras, dessa maneira, o Fobó “é um misto de risos, medo, admiração e alegria; ora causa espanto às crianças que o temem por suas bexigas, ora causa risos, mas também, aguça a ira das pessoas que, banhadas em suas portas ou nas esquinas, recebem do Fobó polvilhadas de Maisena.” Então, Fobó ainda é aquele que assusta, intimida, causa medo, assim foi criado na Grécia antiga e assim deve ser definida a figura do Fobó. Trata-se, portanto, da representação carnavalesca das características do deus da mitologia grega, e ao que tudo indica, o mito influiu na formação etimológica da referida expressão. Interpretá-lo como um reles clown é desconstruir a imagem cultivada no inconsciente popular, é pintar a tradição com as cores pálidas da falta de história. O Fobó surgiu no carnaval com panca de mau, para contrariar o politicamente correto, atualmente atualmente a graça da brincadeira está em assustar e sujar as pessoas. Sem dúvida, a presença dessa personagem garante a originalidade e o sucesso do carnaval e “Os blocos não teriam a mesma animação sem os Fobós, que procuram a todo custo esconder sua identidade, temendo ser manjado (reconhecido)”.

Careto x Fobó

O carnaval de Óbidos, a cidade mais portuguesa da Amazônia, tem suas origens na cultura lusitana, que chegou ao interior da Amazônia trazida pelos imigrantes portugueses principalmente no século XIX, a partir daí preservou-se em sua essência como expressão genuína na região.
Em Portugal, a cultura popular construiu a figura do careto, cuja essência constitui, sem dúvida, a alma do Mascarado Fobó obidense. É interessante notar que a indumentária do nosso Mascarado Fobó é idêntica ao do careto do nordeste de Portugal, região de Trás-os-Montes, salvo a máscara que os lusos tradicionais fabricam de madeira (cara-de-pau) e os obidenses utilizam o papelão para construí-la. Certamente o careto fez uma longa viagem partindo do continente europeu, passou pelos arquipélagos e de lá chegou até Óbidos.
O encarte do CD “Carnapauxis: a festa do Mascarado Fobó” (vol. 01. Óbidos: SECTUMA, 2003) nos revela que o Mascarado “é um misto de risos, medo, admiração e alegria; ora causa espanto às crianças que o temem por suas bexigas, ora causa risos, mas também, aguça a ira das pessoas que, banhadas em suas portas ou nas esquinas, recebem do Fobó polvilhadas de Maisena”. Dessa forma, o Fobó se diferencia do careto da região de Trás-os-montes, que na vila de Salsas, concelho de Bragança, mantêm atitudes mais sensuais e tem como recheio apenas jovens solteiros.
atualmente a graça da brincadeira está em assustar e sujar as pessoas. Sem dúvida, a presença dessa personagem garante a originalidade e o sucesso do carnaval e “Os blocos não teriam a mesma animação sem os Fobós, que procuram a todo custo esconder sua identidade, temendo ser manjado (reconhecido)”.

E os Mascarados de hoje? Andam por aí.

E a denominação “Fobós” de acordo com as evidências tem relação com a mitologia antiga, onde o deus Fobos é o deus do medo e do temor, pois, os trechos já mencionados mostram que este sentimento estava ligado à figura do Mascarado Fobó. Atualmente o símbolo do Carnaval de Óbidos em nada assusta. A figura do Fobó estabeleceu-se definitivamente na cultura local, tanto que raras são as crianças que ainda se espantam com sua figura, pelo contrário, procuram cada vez mais participar do carnaval obidense vestidas de Fobó, assim renovam a tradição e garantem a continuidade da irreverência, porque “Hoje o carnaval não mais brilha sem ele, pois é considerado o símbolo maior do CARNAPAUXIS”.


2 comentários:

  1. Concordo muito bem com o comentário. Mas ainda há uma luz no fundo do túnel, se Deus queizer para o ano, já tenhamos uma nova admininstração que possa resgatar o verdadeiro CARNAPAUXIS, aquele que tinha os blocos nas ruas da cidade, saindo 4hs da tarde, sem corredor de folia( ou seja, o carnaval era para todos os bairros, sem distinção)COM MASCARADOS FOBÓS.Até a tradição do mascarado fobó está acabando,Talvez seja porque os blocos só saem de noite, não tem mais graça nenhuma se vestir de mascarado fobó para andar de noite em ruas escuras. O único bloco, que ainda tenta manter a tradição é o Chupa Osso, que aliás foi essa turma dai (Jorjão, Júnior Canto e outros ai, que fizeram esse carnaval brilhar , no governo do já falecido Zé Mário. E que hoje estão deixando acabar. Agora quanto a estrutura, acho que a cidade toda deve ser bem preparada para os turistas, por que só determinada ruas dever ser comtempladas com o carnaval?

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  2. Em 2012 o bloco que realmente levou mais mascarado para as ruas foi insdiscutivelmente o MORRO, esse sim vem tentantando manter a cultura do mascara fobó

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