quinta-feira, 10 de março de 2011

Não percamos a fé na classe política

Por M. Lino

Há algumas semanas, escrevi, a respeito do Patrimônio Arquitetônico de Óbidos, um pequeno texto, o qual recebeu certo apoio, algumas críticas (é natural), a maioria comentários a favor. Pois bem, uma opinião me chamou a atenção e por esse motivo transcrevo-o aqui:
“Fico pensativa quando leio os comentários. Até o momento não li uma sugestão para melhorar alguma coisa em Óbidos, só vejo reclamação, rancor e bobagens. Imagino que se um dos que escrevem fosse eleito prefeito ou vereador, tudo ia ficar do mesmo jeito. Nenhum tem boas idéias, só sabem reclamar”. (fonte: site Chupa Osso)
Percebam a seguinte afirmação: “se um dos que escrevem fosse eleito prefeito ou vereador, tudo ia ficar do mesmo jeito”. Aí está, caros leitores, o desabafo de alguém que perdeu consideravelmente a fé no gênero humano. Pelo que afirma o comentário, a classe dos políticos não merece muito crédito, e mais, os cargos de vereador ou prefeito, parece conter uma espécie de vírus da perversão. De acordo com este comentário, qualquer cidadão, por mais bem intencionado que seja, ao assumir um cargo eletivo, sofre estranha metamorfose, é tomado por atitudes esdrúxulas que corroem o caráter e a memória, porque esquecem rapidamente as promessas de campanha e não cumprem a palavra empenhada no palanque. É uma opinião salgada, não há dúvida. Expressa o pensamento de muitos cidadãos alienados por decênios de submissão e falta de perspectivas. Infelizmente o único horizonte que estes vislumbram é o da Serra da Escama.
“Tudo ia ficar do mesmo jeito”, será? Segundo o palhaço (e deputado federal) Tiririca: “Pior do que está não fica”. Porém, é fundamental entender uma coisa: o embate de opiniões constitui mecanismo imprescindível no processo de construção de uma sociedade democrática. De outro modo o regime político se transforma numa ditadura, onde a vontade de uma minoria prevalece sobre a opinião dos demais.
É compreensível a intenção do comentário em calar a diversidades de vozes. O desmerecimento implícito nas entrelinhas reflete resquícios da ditadura, do coronelismo, dos “viveiros” eleitorais, onde o pobre tapuio era apanhado nas ruas e encerrado em propriedades particulares e saía dali unicamente para votar na chapa de seu “fulano”. Quando muito, recebia uma garrafa de cachaça ou um par de sapatos que nunca usava. Apenas na eleição seguinte era procurado novamente. Nesse entremeio tinha que ficar calado, submisso.

É preciso legislar

Quando digo que o Patrimônio Arquitetônico está ameaçado não culpo a administração pública atual por isso, pois este processo se arrasta há décadas. O que é preciso fazer urgente é evitar a descaracterização do centro histórico da cidade. Como? Regulamentando reformas e construções novas para que conservem o padrão colonial. É fácil realizar? Não, por isso até hoje não há um lei a esse respeito, capaz de impedir, a partir de agora, o uso de outro estilo de construção que não seja o colonial.
Para que a população e os órgãos públicos cheguem a um termo é preciso envolver a comunidade nas discussões, realizar chamadas públicas, consultar os cidadãos e tomar as providências, legislar.
Tenho visto algumas casas no centro da cidade, reformadas recentemente, e que preservam o estilo original, demonstrando a sensibilidade dos proprietários para com a manutenção do padrão de arquitetura portuguesa.
Enfim obidenses, não percam totalmente as esperanças, tenhamos fé na classe política e lembremos o adágio popular: “A esperança é a última que morre”.
Rancor? Não. Porém, repito: o embate de idéias é imprescindível na construção de uma sociedade democrática. Os meios de comunicação têm papel importante no processo democrático.
Sim, é possível fazer política com a participação do povo, basta querer.

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