segunda-feira, 6 de agosto de 2012

AS ELEIÇÕES EM ÓBIDOS


Por M.Lino
 Foto: Prefeitura Municipal de Óbidos em 06/08/2012
A história nos mostra que a democracia obidense construiu-se pautada em erros e acertos (mais erros do que acertos). Esta afirmação se justifica quando percebemos que, a cada pleito, certas táticas para a conquista de votos, nada confiáveis, são consagradas nas urnas, ganham notoriedade e em nova eleição voltam travestidas com roupagens novas, porém, a essência do engodo é que preenche o cerne desses expedientes eleitorais. Muitas vezes, o que muda é o reduto onde a panaceia se desenrola. Costumeiramente o golpe se aplica na mesma comunidade em mais de uma eleição até que o povo aprenda o truque.
Em Óbidos os eleitores comprovadamente se acostumam à lei do menor esforço, pois quando um candidato promete que vai resolver todos os problemas encontra muitos que o ouçam.
Em tática consagrada, os candidatos escolhem alguém da comunidade ou com ligação com os comunitários. Em Óbidos comprovadamente há cabos eleitorais por profissão. Estes dispõe-se a apoiar qualquer candidatura, independente de partido ou passado político. A proposta mais tentadora o arregimenta. O cabo eleitoral marca uma reunião com a comunidade. O passo seguinte é apresentar o candidato e fechar o apoio com a assembleia comunitária.
Um exemplo bastante comentado pelo povo aconteceu na eleição passada. Certo vereador da atual legislatura coleou-se com um catedrático cabo eleitoral (desses que aparecem nas comunidades de quatro em quatro anos) que o levou numa localidade onde possui mais de três dúzias de primos, estes com família numerosa. O lugar perfeito onde arrumar um curral eleitoral. No dia da reunião para fechar apoio ao candidato o dito cabo eleitoral apontava para o candidato e dizia: “Se este candidato não resolver o problema da comunidade pode deixar com este caboco!” – e batia no peito – “Pode deixar com este caboco aqui que eu resolvo!” E batia novamente no peito.
O candidato havia levado uma papelada de fazer inveja a desembargador. Tudo a pretexto de firmar compromisso para ser “representante” da comunidade. Detalhe: o candidato buscava a reeleição, era vereador (ou seja, representante do povo). De posse de um calhamaço sem valor, feito para engambelar os eleitores, disse que se reeleito representaria a comunidade. E com toda pompa assinou as folhas. Isto impressionou sobremaneira o povo.
Não deu outra. O candidato teve votação recorde na comunidade. O cabo eleitoral sumiu do mapa e o vereador idem.
Desolado, o eleitor inocente se reclamava: “Nós acreditemo porque o candidato que nós apoiemo na outra eleição foi bom pra nós. Nós pensava que ia acontece a mesma coisa. Foi onde nós se enganemo! E ele ainda batia no peito...”
Após a próxima eleição saberemos se a comunidade aprendeu (ou não) a lição.


No Tempo das Eleições 
Hermilson Marcos (Publicado em Recanto das Letras)

Começarei neste instante
Uma nova narração
Vou contar o que se passa
Nos tempos de eleição
Todo mundo lhe abraça,
Todo mundo é seu irmão.

De quatro em quatro anos
Acontece a “romaria”
O eleitor não sossega
Nem de noite e nem de dia
Sua casa é mais visitada
Do que uma hotelaria.

Vou contar uma história
Que é mais ou menos assim:
Um político poderoso
Vestido todo em marfim
Que fez uma visitinha
A um tal de Joaquim.

Na porta de Joaquim
Parou aquele “carrão”
Joaquim ficou olhando
Dizendo: “Isso é confusão!”
Do carro desceu um homem
Com uma maleta na mão.

Joaquim olhou o homem
E falou; “O que é isso?
Um homem cheim de grana
Na casa que é um lixo?!”
Joaquim notou logo
Que “aquilo” era um político.

O candidato chorou
Na hora que chegou lá
Assim que ele foi entrando
Começou a perguntar:
Como é que tão as crianças?
E você como é que tá?

“Eu não me esqueço do povo
Nem dormir não posso mais
Eu não tenho mais sossego
Nem posso viver em paz
Pensando nos pacientes
Nas camas dos hospitais”.

“Não existe mais saúde
E educação não tem
O poder que tá aí
Não se lembra de ninguém
Só ajuda a família dele
E o eleitor nada tem”.

“Mas quando eu for eleito
Tudo isso vai mudar
A cidade vai crescer
Toda rua vou calçar
Na casa de todo mundo
Água eu vou instalar”

“Eu vou cuidar do turismo,
Do lazer, da moradia,
Eu vou cuidar do esporte
Visitar-lhe todo dia
Eu vou empregar você
E toda a sua família”

“A sua casa é pequena
Prometo, vou aumentar
Almoço, janta e merenda
Pro senhor não vai faltar
Isso eu prometo ao senhor
Se em mim você votar”

O dono da casa disse:
“Agora vai ficar bom!
O dotô é gente boa
Eu conheço pelo tom!
Agora eu compro pra mim
Geladeira, carro e som”

A mulher dele lhe disse:
“Político só faz mintí!
Porque durante três mês
Só ele num vem aqui!
É por isso que eu lhe digo
Que num vá se iludir!”

O político respondeu:
“Pode confiar em mim!
Eu tando lá no poder
A coisa vai ser assim!”
A mulher disse: “Marido
Se quizé vote sozim!”

Veja o que aconteceu
Quando o político saiu
A notícia de repente
Lá no vizinho surgiu
Por conta desse político
Os dois vizinho discutiu

O político sempre traz
Mentiras e traições
A mentira na política
“Ronca” mais que os trovões
Por causa dessa mentira
Surge briga e confusões

Na saída do político
Seu Joaquim encostou
Na casa de seu Vicente
E a “dita” história contou
O que o político disse
E a confusão começou

Quando Joaquim chegou
Disse: “Bom dia cumpade
Eu vim só lhe visita
Pra trazê a novidade
Que hoje eu fui visitado
Por um dotô da cidade”

Vicente lhe perguntou:
“Então me conta cumpade!
Mulher traz um cafezinho
O miozim da cidade
Eu vou fazê um ‘pé-duro’
Pra sabê da novidade”

Quando tomavam café
Seu Vicente perguntou:
“Qual é a novidade
Desse tal desse dotô?
O que foi que ele disse?
O que foi que ele falou?

“Ele conversou muito
Fez aquele “sururu”
“E da onde era esse hôme?
“Era do Paracuru!”
“Ele vei na tua casa
mode visitá tu?”

“Mas cumpade tu num sabe
Que é tempo de eleição?
E eu vou querer o teu voto,
O cumpade num vota não?”
Cumpade isso é mintira
Num passa de ilusão!”

Cumpade, mas nessa épuca
A gente tem que votá!”
“Sim cumpade, mas devemo
Um bom partido arrumá
Purque num é cum mintira
Que ele vá gunverná!”

“Promete mundos e fundos
E nada ele vai fazê
Mas de quato em quato ano
Ele engana você!
Cumpade você é besta
Você num qué intendê!”

“O que ele te prometeu
Pra mode tu tá assim?”
“Prometeu muitas coisa
Pro meus filhos e pra mim!”
Também a minha muié
Achô um bocado ruim!”

“Me prometeu calçamento
E água vai instalá
E vai arrumá trabalho
Pros meus filhos trabaiá
Pode achá ruim quem quizé
É nele qu’eu vô votá!”

Cumpade tu é muito besta!
Ele qué é te enganá!
É só mais um mintiroso
Que sempre vem visita
O povo da redondeza
Só atrás de inganá!”

“Se tu quizé votá, vota!
Eu num vou te obrigá.
Num é a falta do teu voto
Que ele num vai ganha!
Quando tiver no pudê
Também num vá procura!”

Seu Joaquim se zangou
E logo se levantou
Seu Vicente nessa hora
Zangado lhe perguntou;
“Você qué briga comigo
Por causa desse dotô?”

Ao decorrer da campanha
Já não se falavam mais
Nem seu Joaquim ia lá
Nem seu Vicente ia atrás
E só depois da campanha
É que veio reinar a paz

Porque o doutor ganhou
E as promessas não cumpriu
Seu Joaquim e Vicente
Um para outro sorriu
E a amizade dos dois
Novamente surgiu

Joaquim disse a Vicente:
Cumpade foi ilusão!
Bem que o cumpade me disse
Que era mais ôtro ladrão!
Só queria ganhá voto,
Era só tapiação!”

Por isso que eu sempre digo
Que não vá se enganar
Pois de quatro em quatro anos
Eles voltam a lhe “atentar”
Enganando com conversa
Doido pra lhe tapiar

Voto é um direito seu
Escolha em quem votar
Veja o plano do político
Se ele quer trabalhar
Se ele tiver projetos
Pode nele confiar.

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